A anorexia é uma síndrome caracterizada por baixo peso com comportamentos voltados à manutenção deste; distorção da imagem corporal; medo intenso de engordar, sendo este o elemento psicopatológico central; além de alterações endócrinas que levam à amenorreia classicamente associada ao quadro. Ou seja, é uma doença que além de desnutrição e do desequilíbrio emocional grave, pode causar outras sequelas importantes na pessoa.
Dessa forma, é de extrema importância todos os médicos saberem realizar corretamente o diagnóstico e o tratamento dessa doença. Por isso, hoje resolvemos escrever esse texto para atualizar você médico sobre o manejo correto da anorexia nervosa.
Boa leitura!
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Qual é o quadro clínico da anorexia nervosa?
Apesar da heterogeneidade do transtorno, a apresentação clássica da anorexia nervosa é:
1. Mulher jovem, levada a contragosto à consulta clínica por familiares, bastante preocupados com a sua perda de peso e restrição dietética extrema nos últimos meses. Esses pacientes mostram grande preocupação com o peso e a forma corporal, empreendendo uma inexorável busca pela magreza; para tal, podem envolver-se também em métodos purgativos e atividades físicas excessivas.
2. Geralmente apresentam algum grau de distorção da imagem corporal, acreditando que estão obesas ou que uma parte específica do corpo está muito grande.
3. Existem casos também que a motivação para a dieta pode ser manifestada como uma queixa somática, por exemplo, dor ou desconforto abdominal. Nem sempre a justificativa é clara, mas, com o acompanhamento, a preocupação com o ganho de peso ou a obsessão por uma dieta saudável comumente aparece.
4. Frequentemente são pessoas com alto grau de rigidez, perfeccionismo e introspecção; a autoestima baixa pode reforçar comportamentos alimentares, uma vez que a perda de peso é vivida como uma conquista, e não como um problema.
5. Podem ter especial interesse em culinária, apesar de evitarem comer em público. Até metade dos indivíduos descreve episódios de compulsão alimentar, o que dispara comportamentos compensatórios. Alguns chegam a ter medo de que calorias possam ser ganhas em situações diárias, como escovar dentes e passar batom, hidratante ou protetor solar.
Figura 1: Sinais clínicos e laboratoriais da anorexia nervosa
Critérios diagnósticos:
Os critérios diagnósticos (DSM-5) são sintetizados da seguinte maneira:
A. Restrição da ingesta calórica que leva a baixo peso corporal;
B. Medo intenso de engordar ou presença de comportamentos que impeçam o ganho de peso a despeito do baixo peso;
C. Distorção do modo como vivencia seu peso ou forma corporal, influência inapropriada do peso ou forma do corpo sobre sua autoavaliação ou negação da gravidade do peso atual.
Especificadores:
- Tipo restritivo: apenas jejum, dieta e exercícios excessivos nos últimos 3 meses
- Tipo bulímico/purgativo: nos últimos 3 meses apresentou comportamentos bulímicos ou purgativos (p. ex., laxantes, enemas, vômitos ou diuréticos).
Gravidade:
- Leve: IMC - 17 kg/m2
- Moderada: IMC 16 – 16,99 kg/m2
- Grave: IMC 15 – 15,99 kg/m2 Extrema: IMC < 15 kg/m2.
Comorbidades
As comorbidades são mais regra do que exceção na anorexia nervosa:
Transtornos de ansiedade e de personalidade estão presentes em cerca de metade dos pacientes, transtornos depressivos em aproximadamente dois terços deles e abuso/dependência de substâncias em torno de um terço.
Tratamento
O manejo da anorexia nervosa demanda um grande empenho do paciente, de seus cuidadores e também da equipe profissional. Grande parte do sucesso do tratamento depende do estabelecimento de um bom vínculo com o doente, facilitando sua colaboração.
A meta principal na fase aguda é a recuperação do peso saudável. Sugere-se que esse manejo seja feito por equipe multiprofissional, compreendendo psiquiatra, psicoterapeuta, nutricionista/nutrólogo, terapeuta ocupacional, assistente social, educador físico, enfermeiro e clínico geral.
Quadro 1. Indicações de internação para pacientes com anorexia nervosa.
A terapia nutricional, apesar de ser ponto-chave do tratamento, não deve ser realizada como estratégia única. Em média, estima-se um ganho de 0,5 kg/semana em pacientes ambulatoriais e 0,5 a 1 kg/semana nas internações, o que requer 3.500 a 7.000 kcal extras por semana.
Tecnicamente, não existem evidências de superioridade entre as abordagens psicoterápicas individuais, terapia interpessoal ou psicodinâmicas e o tratamento em geral tem longa duração. No caso de crianças e adolescentes, a terapia familiar tem se mostrado a intervenção com evidências de maior eficácia a curto e longo prazo.
Até o momento, não existe evidência para uso de nenhuma medicação específica para a anorexia nervosa. Os psicofármacos não devem ser usados como tratamento principal ou exclusivo, além disso, grande parte dos casos não necessita de medicação.
Chegamos ao fim de mais um tema relevante dentro da área médica, principalmente, dentro da Psiquiatria. Se
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Referência: Manual de Psiquiatria- Felipe Paraventi.