No Brasil, estudos mostram uma prevalência de 53% de anemia ferropriva em crianças de 6 meses a 5 anos de idade, considerando como ponto de corte o nível de 11 g/dL de hemoglobina circulante.
Desde o período pré-natal a deficiência de ferro tem repercussões importantes e deletérias de longo prazo no desenvolvimento de habilidades cognitivas, comportamentais, linguagem e capacidades psicoemocionais e motoras das crianças, sendo que o possível impacto negativo permanece mesmo após o tratamento precoce por décadas.
Acompanhe o nosso texto para entender melhor essa doença tão prevalente na população brasileira!
Boa leitura!
Quais são as ações que devem ser tomadas para prevenir a deficiência de ferro e anemia ferropriva na infância?
Entre as ações para prevenção da deficiência de ferro e anemia ferropriva está o incentivo ao aleitamento materno exclusivo até seis meses de vida e prolongado até dois anos de idade, associado ao acesso universal à alimentação adequada pela mãe durante a lactação e pelo lactente, de forma a aumentar o consumo de alimentos fontes de ferro, bem como de alimentos que aumentam a biodisponibilidade e a absorção do ferro na introdução de alimentos complementares.
A preocupação com esta carência mineral no início da vida existe mesmo nos recém-nascidos a termo e com peso adequado ao nascer, que geralmente têm estoques de ferro suficientes até quatro a seis meses de idade. Após esta idade, pode ocorrer aumento nas taxas de deficiência de ferro e anemia ferropriva como resultado da presença de fatores de risco.
Quais são os principais fatores de risco de anemia ferropriva para crianças e adolescentes?
Baixa reserva materna:
- Gestações múltiplas com pouco intervalo entre elas
- Dieta materna deficiente em ferro
- Perdas sanguíneas
- Não suplementação de ferro na gravidez e lactação
Aumento da demanda metabólica:
- Prematuridade e baixo peso ao nascer (< 2.500g)
- Lactentes em crescimento rápido (velocidade de crescimento > p90)
- Meninas com grandes perdas menstruais
- Atletas de competição
Diminuição do fornecimento:
- Clampeamento do cordão umbilical antes de um minuto de vida
- Aleitamento materno exclusivo prolongado (superior a seis meses)
- Alimentação complementar com alimentos pobres em ferro ou de baixa biodisponibilidade
- Consumo de leite de vaca antes de um ano de vida
- Consumo de fórmula infantil com baixo teor de ferro ou quantidade insuficiente
- Dietas vegetarianas sem orientação de médico/nutricionista
- Ausência ou baixa adesão à suplementação profilática com ferro medicamentoso, quando recomendada.
Perda sanguínea:
- Traumática ou cirúrgica
- Hemorragia gastrintestinal
- Hemorragia ginecológica
- Hemorragia urológica
- Hemorragia pulmonar
- Discrasias sanguíneas
- Malária
Má absorção do ferro:
- Síndromes de má-absorção (doença celíaca, doença inflamatória intestinal)
- Gastrite atrófica, cirurgia gástrica (bariátrica, ressecção gástrica)
- Redução da acidez gástrica (antiácidos, bloqueadores H2, inibidores de bomba de prótons)
Como realizar o diagnóstico?
A recomendação do consenso é realizar a investigação laboratorial da deficiência de ferro, com ou sem anemia, aos 12 meses de vida. No entanto, na suspeita baseada na presença de fatores de risco, a investigação deve ser prontamente e precocemente realizada, especialmente na ausência de profilaxia adequada com ferro.
Considerando o custo dos exames diagnósticos e a necessidade de padronizá-los para se identificar a fase inicial da depleção ou da deficiência de ferro sem anemia, em que a concentração de hemoglobina é normal, recomendamos no mínimo os seguintes exames:
1. Hemograma: para avaliação da hemoglobina, dos índices hematimétricos (VCM, HCM, RDW) e da morfologia dos glóbulos vermelhos.
2. Ferritina sérica: como marcador da fase de depleção dos estoques.
3. Proteína C reativa: para identificar processo infeccioso.
Como realizar o tratamento?
Ferro oral (dose de 3 a 6 mg de ferro elementar/kg/dia), fracionado ou em dose única, por seis meses ou até reposição dos estoques corporais confirmados pela normalização da hemoglobina, VCM, HCM, ferro sérico, saturação da transferrina e ferritina sérica.
Existem diferentes compostos de ferro disponíveis comercialmente e no Sistema Único de Saúde, e a escolha deve levar em consideração os custos, acessibilidade, padrões de absorção de cada sal, o grau de resposta em relação ao tempo de tratamento e na menor ocorrência de eventos adversos.
A efetividade do tratamento deve ser checada com hemograma e reticulócitos após 30 a 45 dias do início do tratamento, quando se espera que exista melhora dos níveis de reticulócitos e aumento da hemoglobina em pelo menos 1,0 g/dL.
Prevenção:
Fonte: Diretrizes Consenso sobre Anemia Ferropriva- 2021
Para finalizar:
Com base nas prevalências de anemia evidenciadas no nosso país e pela importância do ferro para o adequado neurodesenvolvimento infantil, com risco acentuado da deficiência de ferro, permanece atual o lema: ANEMIA FERROPRIVA, MAIS DO QUE UMA DOENÇA, UMA URGÊNCIA MÉDICA. Assim finalizamos mais 1 tema, caso tenha interesse na área da Nutrologia conheça nossa Pós-Graduação em Nutrologia.
Referência:
CONSENSO SOBRE ANEMIA FERROPRIVA: ATUALIZAÇÃO: DESTAQUES 2021