Conceito de transferência na relação médico-paciente:
A transferência é um processo psicológico, geralmente inconsciente, em que o paciente projeta no médico sentimentos, expectativas e formas de se relacionar que teve com figuras importantes da infância, como os pais ou cuidadores. Esses sentimentos podem ser positivos ou negativos, e nem sempre são adequados à situação atual.
Como a transferência se forma no ambiente terapêutico?
Durante a consulta, o paciente pode ver o médico como alguém que irá protegê-lo, acolhê-lo e ajudá-lo a lidar com a dor e a angústia, como fazia a mãe ou o pai na infância. Por isso, esse tipo de expectativa emocional vem carregado de memórias afetivas e de antigas formas de relacionamento.
Origem do conceito de transferência:
O conceito de transferência vem da psicanálise. Nesse sentido, ele descreve como sentimentos e padrões emocionais antigos, vividos na infância, podem ser revividos nas relações atuais, especialmente na relação terapêutica.
Tipos de transferência:
As duas formas mais comuns são:
Essas reações refletem as emoções do paciente em relação a pessoas importantes do passado, especialmente nos primeiros anos de vida.
A transferência acontece só na relação médico-paciente?
Não, tendo em vista que a transferência é um fenômeno comum em todos os tipos de relacionamento, mas é mais evidente e significativo na relação com o médico ou terapeuta, porque esse vínculo muitas vezes desperta sentimentos profundos de dependência e cuidado.
Motivo da importância do médico reconhecer a transferência:
Reconhecer a transferência ajuda o médico a entender melhor os comportamentos e reações do paciente. Somado a isso, também permite lidar de forma mais cuidadosa com expectativas exageradas, frustrações e queixas que, na verdade, dizem mais sobre a história emocional do paciente do que sobre o médico em si. Assim, o passado não pode ser mudado, mas pode ser compreendido e reinterpretado no presente.
Como a transferência se manifesta nas demandas do paciente?
Mesmo que o paciente não perceba, suas queixas, pedidos de atenção, necessidade de acolhimento ou críticas ao médico geralmente vêm acompanhadas de um componente transferencial. Portanto, compreender isso permite que o médico atue de forma mais empática, favorecendo o vínculo terapêutico e o sucesso do tratamento.
Conceito de contratransferência:
A contratransferência é a resposta emocional que o médico tem ao ser afetado pela transferência do paciente. Nessa lógica, essas reações, muitas vezes inconscientes, refletem como o médico é tocado pelas emoções e expectativas trazidas pelo paciente durante a consulta.
A contratransferência é um problema ou pode ser útil?
Inicialmente, a contratransferência era vista como um obstáculo em virtude de ser algo que atrapalhava a relação terapêutica. Hoje, no entanto, ela é compreendida como uma ferramenta importante. Logo, quando o médico percebe suas próprias reações emocionais e as entende como parte da interação com o paciente, isso pode ajudar a aprofundar a compreensão do que está acontecendo na consulta.
O que o médico precisa fazer para lidar bem com a contratransferência?
O médico precisa estar atento aos seus próprios sentimentos durante a consulta, uma vez que é importante reconhecer essas emoções sem agir impulsivamente sobre elas. Por isso, auxilia a evitar respostas defensivas ou distanciamento emocional, o que pode prejudicar o vínculo com o paciente.
Tipos de reações contratransferenciais mais comuns:
Essas atitudes geralmente não são conscientes, mas podem afetar negativamente a relação médico-paciente.
Como o conceito de contratransferência evoluiu ao longo do tempo?
No começo, a contratransferência era vista apenas como uma falha do profissional, causada por falta de autoconhecimento. Porém, depois, passou a ser entendida como todas as emoções que o paciente desperta no médico. Contudo, hoje, ela é reconhecida como parte natural da relação terapêutica e, se bem compreendida, pode ser uma fonte rica de informação sobre o paciente e sobre o vínculo estabelecido.
Como a contratransferência pode ajudar na prática clínica?
Se o médico perceber que está sentindo algo estranho, como irritação, cansaço repentino ou ansiedade sem motivo aparente, ele pode se perguntar se isso vem do próprio paciente. Por isso, às vezes, o paciente ainda não expressou verbalmente sua angústia, mas transmite isso de forma sutil, e o médico acaba “sentindo no corpo”. Logo, esse reconhecimento pode ajudar o médico a fazer perguntas mais precisas e acolher o sofrimento do paciente de forma mais empática.
Exemplo prático:
Imagine um médico que começa a sentir irritação ou pressa para terminar a consulta, mesmo que tudo pareça normal. Por isso, se ele refletir sobre isso, pode perceber que está captando, de forma não verbal, a angústia ou a tensão do paciente. Assim, com essa consciência, o médico pode perguntar com sensibilidade: "Está tudo bem? Sinto que talvez haja algo mais que ainda não foi dito." Essa abertura pode facilitar uma conversa mais profunda e ajudar no cuidado.